«Os bons dicionários» ,
Miguel Esteves Cardoso
(Ainda ontem)
PÚBLICO, SEG, 25 JUN 2012, p. 45
Miguel Esteves Cardoso
A primeira coisa que faço quando mudo de casa é
alinhar os dicionários de português numa prateleira — e cabem sempre numa
prateleira.
Escrevo a palavra “prateleira”
e fico envergonhado. Porquê a referência aos pratos? É humilhante falar de
prateleiras quando estamos a falar de livros.
Também não gosto da palavra
“estante”. bookshelf (à inglesa) ou bookcase (à americana)
juntam os substantivos, como se tivessem nascido um para o outro. Em português
é “estante para livros”, como quem diz: “é uma estante especializada, que foi
concebida para os idiotas que querem arrumar livros”. É como “hotel para cães”
ou “hospital de bonecas”.
Quais são os dicionários
essenciais? Modernamente, é o Grande Dicionário/ Língua Portuguesa da Porto Editora (um só volume, mas a exigir
mesa de leitura, para se poder consultar sempre que quisermos) E, mais
portátil, a edição mais recente do Dicionário de Língua Portuguesa da mesma editora. Os mais importantes são mais velhos, a começar
pelos doze volumes de Moraes. Seguem-se os geniais três volumes de Artur Bivar
(um dos quais analógico) e os dois volumes de Caldas Aulete, enriquecidos por
citações literárias.
Junto os dois volumes —
inspiradores, por muitos erros que contenham — do Dicionário Etimológico do grande José Pedro Machado.
Há alguns outros bons
dicionários da língua portuguesa de Portugal. Mas estes são não só os melhores
como aqueles que mais ajudam a ler e escrever bem a nossa língua.
PÚBLICO, SEG, 25 JUN 2012, p. 45