Fotografia de Luísa Ferreira, 1996
LIVRO ANTIGO
violetas secas entre páginas de um livro onde em tempos anunciaram o amargor da noite e a humidade tremenda das insónias
o mar o mar ao longe
debruça-se então para o interior do livro lê qualquer coisa sobre o coração dos líquenes ou deambula de sílaba em sílaba onde os dedos se mancham de tinta e no cérebro ergue-se uma planta de cinza noite adiante
fechou o livro ao amanhecer
era como se tivesse envelhecido séculos com as violetas fecha a persiana e adormece
Al Berto (1948 - 1997), O Medo. [1997, Lisboa, Assírio & Alvim, p. 486] - [de «sete poemas do regresso de Lázaro», 1985] |